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Nome: Jurema
Nome científico: Mimosa tenuiflora
Classificação Xamânica: Planta Mestra Professora
Origem: Floresta da Mata-Atlântica do Nordeste do Brasil
Substâncias ativas: DMT (Dimetiltriptamina) e outros alcalóides
Nomes mais conhecidos: Yu'rema na língua tupi, Jurema, Jurema Sagrada e Vinho da Jurema
Jurema é o nome da Planta Mestra Professora e nome de uma Bebida Sagrada de origem indígena, feita das raízes de sua árvore. Seu feitio é realizado através da maceração da casca e da raíz, combinados com água, vinho ou cachaça, dentro de um contexto ritual indígena ou afro-brasileiro, onde rezas, chamados a entidades, cânticos e giras são realizados.
O uso ritual da Jurema se desenvolveu demasiadamente da região nordeste do Brasil, o que influenciou o surgimento de diversas tradições espirituais entorno de seu uso sacramental, que vão desde a pajelança e xamanismo até as religiões africanas e catolicismo popular.
Desde os primeiros tempos da colonização, vários cronistas e observadores falam sobre o desenvolvimento de rituais ligados à população indígena. Por meio de cantos, danças, infusões, cachimbos e dizeres sagrados, os índios se colocavam em contato com seus antepassados e com outros seres do plano espiritual. Logicamente, aos olhos dos colonizadores e dos jesuítas, tais práticas eram um grande empecilho à divulgação da fé cristã em terras brasileiras.
Nesse conjunto de manifestações, a Jurema Sagrada, Jurema Nordestina ou Catimbó, aparece como uma religião indígena, mas também influenciada por elementos dos cultos cristãos e afro-brasileiros. Antes de tudo, a jurema é uma árvore da caatinga e do agreste que tem sua casca utilizada para a fabricação de uma bebida mágica que concede força, sabedoria e contato com seres do mundo espiritual. É dessa forma que o uso da árvore desencadeia a formulação de uma experiência religiosa com mesmo nome.
Atualmente a Jurema Sagrada se expandiu e ganhou outros territórios. Atualmente é usada também dentro de círculos esotéricos e cristãos, assim como também pela psicoterapia e fitoterapia.
A Jurema Sagrada é remanescente da tradição religiosa dos índios que habitavam o litoral da Paraíba, Rio Grande do Norte e do Sertão de Penambuco e dos seus pajés, grandes conhecedores dos mistérios da floresta e do além, das plantas e dos animais. Depois da chegada dos africanos no Brasil, quando estes fugiam dos engenhos onde estavam escravizados, encontravam abrigo nas aldeias indígenas, e através desse contato, os africanos trocavam o que tinham de conhecimento religioso em comum com os índios. Por isso até hoje, os grandes mestres juremeiros conhecidos, são sempre mestiços com sangue índio e negro. Os africanos contribuíram com o seu conhecimento sobre o culto dos mortos egun e das divindades da natureza, os orixás voduns e inkices. Os índios, estes contribuíram com o conhecimento de invocações dos espíritos de antigos pajés e dos trabalhos realizados com os encantados das matas e dos rios. Daí a jurema se compor de duas grandes linhas de trabalho: a linha dos mestres de jurema e a linha dos encantados.
Os pajés do Nordeste do Brasil, há muito tempo, faziam uma bebida à base da Jurema Branca (Pithecolobium diversifolium) e outra à base da Jurema Negra (Mimosa nigra Hub.). O Vinho extraído da Jurema Branca promovia sonhos afrodisíacos e premonitórios, porém, o Vinho da Jurema Negra, era Bebida Sagrada, consagrada em rituais especiais, como meio de acessar o Mundo dos Espíritos Encantados da Floresta e ter contato com os espíritos desencarnados, Mestres Astralizados, Caboclos e Caboclas, índios, guerreiros, curandeiros, pajés e espíritos xamãs. Nos rituais os índios sonhavam e quando retornavam dos sonhos, eram as mulheres que interpretavam o significado dos sonhos e previam o passado, presente e futuro.
Ainda hoje os rituais com a ingestão da Jurema Sagrada é praticado por diversas tradições indígenas remanescentes no Nordeste do Brasil, tais como: kariri-Xocó, Tuxá, Pankararé, Tupinambá, Atikun e Fulniô. Porém, foi no meio afro-brasileiro que a bebida ganhou mais destaque, através da junção da sabedoria e cultura das raças indígena e negra do Nordeste do Brasil, nasceu o culto do Catimbó, onde os feiticeiros, babalorixás, pais-de-santo e Mestres do Catimbó fazem uso constante, cada um criando uma tradição independente em torno de sua consagração e uso ritual.
O culto da Jurema está para a Paraíba, assim como o de Iroko está para a Bahia. Esta arvore tipicamente Nordestina, era venerada pelos índios potiguares e tabajaras, da Paraíba, muitos séculos antes da descoberta do Brasil. Em Pernambuco, existe um município cujo nome é Jurema devido a grande quantidade destas árvores que ali se encontra. A Jurema, depois de crescida, é uma frondosa árvore que vive mais de 200 anos. Todas as partes dessa árvore são aproveitadas: a raiz, a casca, as folhas e as sementes, utilizadas em banhos de limpeza, infusões, ungüentos, rapés, bebidas e para outros fins ritualísticos. Os devotos iniciados nos rituais do culto são chamados de “Juremeiros”. Foi na cidade de Alhandra, município a poucos quilômetros de João Pessoa, que esse culto, na forma do Catimbó alcançou fama. A Jurema já era cultuada na antiguidade por pelo menos dois grandes grupos indígenas, o dos tupis e o dos kariris, também chamados de tapuias. Os tupis se dividiam em tabajaras e potiguares, que eram inimigos entre si. Na época da fundação da Paraíba, os tabajaras formavam um grupo de aproximadamente cinco mil índios. Eles ocupavam o litoral e fundaram as aldeias Alhandra e a de Taquara.
Foi no contexto religioso e curativo que o uso da Jurema Sagrada mais se desenvolveu, saindo dos índios penetrou os costumes da Umbanda Sagrada e do Catimbó, a mais recente tradição juremeira do Brasil.
Apesar de bastante conhecida no Nordeste do Brasil, ainda não há um consenso sobre qual a classificação exata da planta popularmente conhecida por Jurema. A Jurema (Acacia Jurema mart.) é uma das muitas espécies das quais a Acácia é o gênero. Várias espécies de Acácia nativas do nordeste brasileiro recebem o nome popular de Jurema.
As Acácias sempre foram consideradas plantas sagradas por diferentes povos e culturas de todo o mundo; Os Egípcios e Hebreus veneravam a "Acacia nilotica" (Sant, Shittim, Senneh), os Hindus a "Acacia suma" (Sami), os Árabes a "Acacia arabica" (Al-uzzah), os Incas e outros povos indígenas da América do sul veneravam a "Acacia cebil"(vilca, Huillca, Cebil), os nativos do Orinoco a "Acacia niopo" (Yopo) e os índios do nordeste brasileiro tinham na "Acacia jurema" (Jurema, Jerema, Calumbi) a sua árvore sagrada, a sua Acacia, ao redor da qual desenvolveu-se essa tradição hoje conhecida como "Jurema Sagrada".
Além do Vinho da Jurema, serve como chá desintoxicante. Seca, é utilizada também na defumação, que pode ser misturada ao tabaco, e soprada pelo cachimbo para obstruir larvas, miasmas astrais e formas pensamento de pessoas e lugares.
A Jurema Sagrada é utilizada em dois contextos rituais, indígena e afro-brasileiro, sempre com o propósito de cura e expansão da consciência. No ritual indígena a consagração da Jurema Sagrada faz uso das características indígenas e ancestrais de cura, como a Pajelança, o Ouricuri, os Praiás e os Torés, como formas de chamar os encantados da floresta, ancestrais e espíritos pajés curandeiros para auxiliar na cura. No ritual afro-brasileiro a consagração da Jurema Sagrada se dá em conjunto com a fé e as características magistícas e religiosas do Cadomblé, Umbanda e Catimbó, que vão desde a incorporação de entidades a giras e bailados.
Para compreender o efeito da Jurema Sagrada é necessário situar-se no contexto de expectativas e formas de seu uso ritual, ou seja, os mitos e crenças a seu respeito potencializam o efeito, dando-nos uma sensação de êxtase divino e religioso, miragem ou muitas vezes, sensação de estar recebendo informações diretamente de Deus ou de Espíritos encantados e superiores.
As entidades espirituais identificadas como pertencentes ao Universo da "Jurema" são encantados, caboclos, índios e mestres. Uma caracterização de entidades como "Mestre Zé Pilintra" e outros mestres, caboclos e índios como "Pena Branca", "Cobra Coral", "Arranca Toco" e da própria "Cabocla Jurema" são essenciais para compreender o direcionamento desse efeito.
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